03 outubro 2006

UMA EM CADA CINCO MULHERES PORTUGUESAS É VITIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Os números são assustadores mas, de acordo com Cláudia Pedra, presidente da Amnistia Internacional Portugal, é muito provável que, ainda assim, “estejam distantes da realidade”, uma vez que “há muitas mulheres que continuam a sofrer em silêncio”.Segundo o relatório ‘Mulheres (In)Visíveis’, em 2005 foram apresentadas à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) 12 809 queixas de violência doméstica. Destas, apenas 9815 chegaram à PSP e 8377 foram denunciadas à GNR. Ainda de acordo com o estudo, a grande maioria das vítimas tem entre 26 e 45 anos, mais ou menos a mesma idade do agressor que, na maioria dos casos, é o próprio cônjuge.Os crimes mais registados nas várias instituições são as ofensas à integridade física voluntária simples e grave e os maus tratos e sobrecarga de menores, incapazes ou cônjuge. As agressões surgem sob as mais variadas formas, incluindo com uso de armas de defesa e de caça. Por último, o relatório deixa a descoberto que é nas grandes cidades, Lisboa (30 por cento) e Porto (21,6 por cento) que surge a maioria das queixas. Elaborado por Filipa Alvim, ‘Mulheres (In)Visíveis’ pretende pôr termo aos números alarmantes da violência doméstica sobre as mulheres em Portugal. Só em 2005, 33 portuguesas morreram às mãos dos maridos, antigos namorados ou parceiros. “Este mais não é do que um crime de violação dos Direitos Humanos, por isso há que começar por consciencializar a opinião pública para este grave problema. Utilizar, por exemplo, o sistema de educação para desafiar preconceitos”, sugere a autora do relatório. É esse, aliás, um dos 14 pontos do programa para a Prevenção da Violência Doméstica da AI: lançar campanhas de sensibilização nas escolas. “Se 40 por cento das agressões começam aos 25 anos, algumas até antes, na fase de namoro, isso significa que a educação falhou”, diz Filipa Alvim.Reestruturar a Linha Verde de Apoio à Vítima, providenciar novas casas de abrigo para mulheres que fogem da violência e promover formação profissional específica para facilitar a sua inserção na sociedade são outras medidas que a AI tem na manga e que pretende fazer chegar às várias entidades.É que, não correspondendo estes números às verdadeiras cifras negras, não é de estranhar que Portugal esteja mais perto da média mundial – uma em cada três, do que a média europeia – uma em cada cinco, no que se refere ao número de mulheres vítimas de violência doméstica.